segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Azar de novato


E já faz uma semana que a Renault apresentou seu novo carro e sua nova dupla de pilotos para 2010. Pouco se falou sobre Robert Kubica, muito se falou sobre Vitaly Petrov, muito se falou sobre a nova pintura do carro da equipe (aliás, pintura belíssima, até porque acaba com a monotonia do excessivo uso da cor branca nos carros da F1 atual)...mas o que se falou sobre Romain Grosjean?

Pois é. O franco-suiço parece ter sido “expulso” da escuderia sem a menor cerimônia. Mas vamos ser sinceros: já parecia bem claro que Grosjean não permaneceria na equipe. Os boatos de que seria substituído já no GP do Brasil do ano passado e o fato de seu nome praticamente não ser lembrado pela própria Renault quando questionada sobre quem seria o companheiro de Kubica evidenciavam isso.

É verdade que seu desempenho na F-1 não colaborou para que o piloto tivesse seu talento reconhecido. Em 7 corridas, tudo o que conseguiu foi posições de largada muito ruins, momentos pífios na pista e causar temor nos outros pilotos, pois volta e meia se envolvia em confusões; além, é claro, de ter sua habilidade questionada e virar chacota após bater no mesmo lugar em que Nelsinho Piquet detonou seu carro em Cingapura. Enfim, um desempenho nada elogiável.

Romain Grosjean numa típica cena no ano passado...

Mas é estranho ver que Grosjean teve tão pouco sucesso na F-1 mesmo tendo tido um currículo de respeito até chegar à maior categoria do automobilismo. Foi campeão da F-3 Europeia e fez duas temporadas muito boas na GP2, com corridas de muito destaque. Mostrava ser um bom piloto e era bem agressivo, embora fosse um pouco estabanado, algo que ficou muito visível ao mundo todo no ano passado. Ou seja, não era tão mal piloto para se sair tão mal na F-1.

Mas há algo que parece ter sido determinante para seu fracasso em 2009: Grosjean foi estrear na categoria justo em um carro extremamente difícil de guiar. Um carro que somente um excelente piloto – Fernando Alonso, talvez o melhor da atualidade –, conseguia guiar (e mesmo assim precisando de todo o suporte possível da equipe). Um carro que quase queimou Heikki Kovalainen e que queimou Nelsinho Piquet, dois pilotos de muito destaque também na GP2. E por que, não, um carro que por pouco não queimou Lucas Di Grassi: isso só não ocorreu porque ele não chegou a pilotá-lo em corridas oficiais, mas o brasileiro reconheceu que era um bólido muito instável, que aumentava as chances dos pilotos cometerem erros e que talvez tenha sido bom não ter pego aquela verdadeira bomba justo para estrear na categoria.

É verdade que Grosjean, mesmo tendo um bom currículo que o creditasse a ter sucesso na F-1, poderia ter tido o mesmo pífio desempenho caso estreasse por outra equipe mediana. Poderia ter sido o mesmo desastre numa Williams, numa Toyota ou numa Toro Rosso. Porém, a já reconhecida fama dos últimos carros da Renault de queimar (ou pelo menos tentar queimar) pilotos iniciantes, justamente pelos seus carros difíceis de serem domados, mostra que a grande causa insucesso do franco-suiço deve ter sido por bomba que era o primeiro carro que pode dirigir. Embora bom piloto, Grosjean era um piloto muito suscetível a erros: logo, pilotar um carro que dava margem a erros era uma combinação bem perigosa justo no seu primeiro ano. E foi.

Infelizmente, a F-1 não costuma reparar injustiças. Nelsinho Piquet comeu o pão que o diabo amassou e está tentando reconstruir a carreira na Nascar. Romain Grosjean vai ter que se virar para provar que uma injustiça cometida contra ele também. Só não sei como.


Ameaça tripla – O escolhido para o lugar de Romain Grosjean, como já foi dito, é o russo Vitaly Petrov. Porém, talvez não esteja sendo muito bem visto pelos fãs da categoria: o novato chegou com 15 milhões de euros no bolso, fato que facilmente remeteu à época dos famosos “paydrivers”. Além de pagar para pilotar, geralmente eram bem fracos.

Vitaly Petrov ao lado de Romain Grosjean e Lucas Di Grassi, quando corriam na GP2, no pódio do GP de Monaco de 2009 (obs: viu que o Grosjean ganhava mesmo corridas por lá...)

Coisa que, pelo que mostrou nos dois últimos anos na GP2, não é. Depois de dois anos sem muito brilho, Petrov foi um dos que mais cresceu na categoria, sendo o vice-campeão da temporada passada. Foi um dos poucos que provaram que poderiam entrar na F-1, sendo facilmente batido por Hulkenberg mas batendo nomes como Lucas Di Grassi, Álvaro Parente, Pastor Maldonado e Kamui Kobayashi (esse, surpreendentemente, teve passagem nula por lá) com certa tranquilidade.

Porém, como qualquer um, terá de provar que tem condições de permanecer na categoria. Para isso, terá de domar uma Renault que ninguém sabe como está – talvez continue pronta para queimar novatos –, e terá de superar a desconfiança de todos. Mas antes fosse só isso. Todos sabemos que há um certo narrador em terras brasileiras que adorar pegar no pé de certos pilotos. E Petrov parece uma isca perfeita: um novato que certamente entrou porque tinha muito dinheiro. A princípio, típico estereótipo de um piloto fadado ao fracasso.

Não quero nem ouvir as primeiras críticas se já cometer um erro grave no Bahrein…

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sob outra ótica


Nos últimos tempos – mais precisamente desde o ano passado – estamos presenciando um fenômeno curioso: a volta cada vez maior, assim como cada vez mais prematura, das grandes estrelas brasileiras que se encontravam no exterior. Um fenômeno que começou a se intensificar com a ida de Ronaldo para o Corinthians e chegou às raias do impensável na última semana.

Com a volta de Robinho para o Santos (quem te viu, quem te vê...), temos agora os quatro atacantes quem foram para a Copa do Mundo de 2006 defendendo a seleção brasileira (Ronaldo, Adriano, Robinho e Fred) de volta ao país de origem justo no ano da Copa seguinte àquela disputada na Alemanha. Algo no mínimo curioso e que suscita diferentes interpretações.

Volta de Robinho é positiva para o futebol brasileiro, mas também é cercada de aspectos negativos típicos dos jogadores brasileiros

A positiva é óbvia: a volta dos jogadores “infelizes” – desculpa padrão dada pelos brasileiros para voltar ao país natal – aumenta o nível dos campeonatos aqui disputados. Jogadores bem mais talentosos disputam torneios em terras brasileiras e os deixam muito mais atraentes aos torcedores, que até se sentem mais motivados não só a assistí-los pela tv como a ir aos estádios somente para acompanhá-los.

Mas obviamente há a negativa. E ela não só pode, como é bem cruel. Como já foi discutido aqui, isso só mostra uma cada vez mais típica falta de profissionalismo dos jogadores brasileiros quando se encontram em situações adversas. Uma característica que cada vez mais queima o filme dos jogadores daqui.

O caso dos brasileiros citados anteriormente ilustra muito bem isso: Fred voltou com 25 anos e Robinho e Adriano, com 26. Todos com com muito tempo para jogar lá fora, serem contratados e brilharem por grandes times e conquistarem a Liga dos Campeões, ponto alto de qualquer jogador que joga na Europa. Só não incluo Ronaldo neste grupo porque já havia passado mais de 10 anos jogando em grandes clubes europeus, e, mesmo tendo alguns momentos de menor sucesso, fez bem o seu papel por lá– só não conseguiu conquistar a UCL.

E por que voltaram? Por motivos bem bobos. Desentendimentos com treinadores e companheiros de equipe, falta de oportunidades no time titular – sejam elas injustas ou não –, saudades do Brasil (assim como das farras e regalias só aqui vistas), inadaptação ao clima local…todos esses motivos e mais outros que no final se resumem a tal “infelicidade” já citada anteriormente. Ao invés de lutarem por um lugar no time principal, reverterem o jogo e conquistarem a confiança do treinador, entendendo essas dificuldades como algo que faz parte da caminhada para o sucesso no exterior, fazem justamente o contrário: batem o pé como se fossem crianças até conseguirem seus objetivos, criando situações extremamente frustrantes para os donos de clubes. Afinal, pensem no presidente da Internazionale tendo de liberar Adriano após apostar por dois anos na recuperação de uma ex-estrela da equipe? Ou no dono do Manchester City perdendo Robinho por um tempo depois de contratá-lo com status de estrela principal do time? Complicado, não?

Não quero passar a imagem de que sou totalmente contra a volta dos jogadores ao Brasil; de certa forma, é bom tê-los de volta, pois saem tão cedo que muitas vezes nem mostraram aos brasileiros o que podem render. O objetivo é ser contra a sua volta prematura e que se dá por motivos bobos, que sugerem falta de profissionalismo que cada vez mais caracteriza os brasileiros lá fora. E infelizmente isso é algo que não deve acabar tão cedo; na verdade, a volta tão cedo destes quatro atletas consagrados mostra que é até mesmo piorar.