E já faz uma semana que a Renault apresentou seu novo carro e sua nova dupla de pilotos para 2010. Pouco se falou sobre Robert Kubica, muito se falou sobre Vitaly Petrov, muito se falou sobre a nova pintura do carro da equipe (aliás, pintura belíssima, até porque acaba com a monotonia do excessivo uso da cor branca nos carros da F1 atual)...mas o que se falou sobre Romain Grosjean?
Pois é. O franco-suiço parece ter sido “expulso” da escuderia sem a menor cerimônia. Mas vamos ser sinceros: já parecia bem claro que Grosjean não permaneceria na equipe. Os boatos de que seria substituído já no GP do Brasil do ano passado e o fato de seu nome praticamente não ser lembrado pela própria Renault quando questionada sobre quem seria o companheiro de Kubica evidenciavam isso.
É verdade que seu desempenho na F-1 não colaborou para que o piloto tivesse seu talento reconhecido. Em 7 corridas, tudo o que conseguiu foi posições de largada muito ruins, momentos pífios na pista e causar temor nos outros pilotos, pois volta e meia se envolvia em confusões; além, é claro, de ter sua habilidade questionada e virar chacota após bater no mesmo lugar em que Nelsinho Piquet detonou seu carro em Cingapura. Enfim, um desempenho nada elogiável.
Romain Grosjean numa típica cena no ano passado...
Mas é estranho ver que Grosjean teve tão pouco sucesso na F-1 mesmo tendo tido um currículo de respeito até chegar à maior categoria do automobilismo. Foi campeão da F-3 Europeia e fez duas temporadas muito boas na GP2, com corridas de muito destaque. Mostrava ser um bom piloto e era bem agressivo, embora fosse um pouco estabanado, algo que ficou muito visível ao mundo todo no ano passado. Ou seja, não era tão mal piloto para se sair tão mal na F-1.
Mas há algo que parece ter sido determinante para seu fracasso em 2009: Grosjean foi estrear na categoria justo em um carro extremamente difícil de guiar. Um carro que somente um excelente piloto – Fernando Alonso, talvez o melhor da atualidade –, conseguia guiar (e mesmo assim precisando de todo o suporte possível da equipe). Um carro que quase queimou Heikki Kovalainen e que queimou Nelsinho Piquet, dois pilotos de muito destaque também na GP2. E por que, não, um carro que por pouco não queimou Lucas Di Grassi: isso só não ocorreu porque ele não chegou a pilotá-lo em corridas oficiais, mas o brasileiro reconheceu que era um bólido muito instável, que aumentava as chances dos pilotos cometerem erros e que talvez tenha sido bom não ter pego aquela verdadeira bomba justo para estrear na categoria.
É verdade que Grosjean, mesmo tendo um bom currículo que o creditasse a ter sucesso na F-1, poderia ter tido o mesmo pífio desempenho caso estreasse por outra equipe mediana. Poderia ter sido o mesmo desastre numa Williams, numa Toyota ou numa Toro Rosso. Porém, a já reconhecida fama dos últimos carros da Renault de queimar (ou pelo menos tentar queimar) pilotos iniciantes, justamente pelos seus carros difíceis de serem domados, mostra que a grande causa insucesso do franco-suiço deve ter sido por bomba que era o primeiro carro que pode dirigir. Embora bom piloto, Grosjean era um piloto muito suscetível a erros: logo, pilotar um carro que dava margem a erros era uma combinação bem perigosa justo no seu primeiro ano. E foi.
Infelizmente, a F-1 não costuma reparar injustiças. Nelsinho Piquet comeu o pão que o diabo amassou e está tentando reconstruir a carreira na Nascar. Romain Grosjean vai ter que se virar para provar que uma injustiça cometida contra ele também. Só não sei como.
Ameaça tripla – O escolhido para o lugar de Romain Grosjean, como já foi dito, é o russo Vitaly Petrov. Porém, talvez não esteja sendo muito bem visto pelos fãs da categoria: o novato chegou com 15 milhões de euros no bolso, fato que facilmente remeteu à época dos famosos “paydrivers”. Além de pagar para pilotar, geralmente eram bem fracos.
Vitaly Petrov ao lado de Romain Grosjean e Lucas Di Grassi, quando corriam na GP2, no pódio do GP de Monaco de 2009 (obs: viu que o Grosjean ganhava mesmo corridas por lá...)
Coisa que, pelo que mostrou nos dois últimos anos na GP2, não é. Depois de dois anos sem muito brilho, Petrov foi um dos que mais cresceu na categoria, sendo o vice-campeão da temporada passada. Foi um dos poucos que provaram que poderiam entrar na F-1, sendo facilmente batido por Hulkenberg mas batendo nomes como Lucas Di Grassi, Álvaro Parente, Pastor Maldonado e Kamui Kobayashi (esse, surpreendentemente, teve passagem nula por lá) com certa tranquilidade.
Porém, como qualquer um, terá de provar que tem condições de permanecer na categoria. Para isso, terá de domar uma Renault que ninguém sabe como está – talvez continue pronta para queimar novatos –, e terá de superar a desconfiança de todos. Mas antes fosse só isso. Todos sabemos que há um certo narrador em terras brasileiras que adorar pegar no pé de certos pilotos. E Petrov parece uma isca perfeita: um novato que certamente entrou porque tinha muito dinheiro. A princípio, típico estereótipo de um piloto fadado ao fracasso.
Não quero nem ouvir as primeiras críticas se já cometer um erro grave no Bahrein…