segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sob outra ótica


Nos últimos tempos – mais precisamente desde o ano passado – estamos presenciando um fenômeno curioso: a volta cada vez maior, assim como cada vez mais prematura, das grandes estrelas brasileiras que se encontravam no exterior. Um fenômeno que começou a se intensificar com a ida de Ronaldo para o Corinthians e chegou às raias do impensável na última semana.

Com a volta de Robinho para o Santos (quem te viu, quem te vê...), temos agora os quatro atacantes quem foram para a Copa do Mundo de 2006 defendendo a seleção brasileira (Ronaldo, Adriano, Robinho e Fred) de volta ao país de origem justo no ano da Copa seguinte àquela disputada na Alemanha. Algo no mínimo curioso e que suscita diferentes interpretações.

Volta de Robinho é positiva para o futebol brasileiro, mas também é cercada de aspectos negativos típicos dos jogadores brasileiros

A positiva é óbvia: a volta dos jogadores “infelizes” – desculpa padrão dada pelos brasileiros para voltar ao país natal – aumenta o nível dos campeonatos aqui disputados. Jogadores bem mais talentosos disputam torneios em terras brasileiras e os deixam muito mais atraentes aos torcedores, que até se sentem mais motivados não só a assistí-los pela tv como a ir aos estádios somente para acompanhá-los.

Mas obviamente há a negativa. E ela não só pode, como é bem cruel. Como já foi discutido aqui, isso só mostra uma cada vez mais típica falta de profissionalismo dos jogadores brasileiros quando se encontram em situações adversas. Uma característica que cada vez mais queima o filme dos jogadores daqui.

O caso dos brasileiros citados anteriormente ilustra muito bem isso: Fred voltou com 25 anos e Robinho e Adriano, com 26. Todos com com muito tempo para jogar lá fora, serem contratados e brilharem por grandes times e conquistarem a Liga dos Campeões, ponto alto de qualquer jogador que joga na Europa. Só não incluo Ronaldo neste grupo porque já havia passado mais de 10 anos jogando em grandes clubes europeus, e, mesmo tendo alguns momentos de menor sucesso, fez bem o seu papel por lá– só não conseguiu conquistar a UCL.

E por que voltaram? Por motivos bem bobos. Desentendimentos com treinadores e companheiros de equipe, falta de oportunidades no time titular – sejam elas injustas ou não –, saudades do Brasil (assim como das farras e regalias só aqui vistas), inadaptação ao clima local…todos esses motivos e mais outros que no final se resumem a tal “infelicidade” já citada anteriormente. Ao invés de lutarem por um lugar no time principal, reverterem o jogo e conquistarem a confiança do treinador, entendendo essas dificuldades como algo que faz parte da caminhada para o sucesso no exterior, fazem justamente o contrário: batem o pé como se fossem crianças até conseguirem seus objetivos, criando situações extremamente frustrantes para os donos de clubes. Afinal, pensem no presidente da Internazionale tendo de liberar Adriano após apostar por dois anos na recuperação de uma ex-estrela da equipe? Ou no dono do Manchester City perdendo Robinho por um tempo depois de contratá-lo com status de estrela principal do time? Complicado, não?

Não quero passar a imagem de que sou totalmente contra a volta dos jogadores ao Brasil; de certa forma, é bom tê-los de volta, pois saem tão cedo que muitas vezes nem mostraram aos brasileiros o que podem render. O objetivo é ser contra a sua volta prematura e que se dá por motivos bobos, que sugerem falta de profissionalismo que cada vez mais caracteriza os brasileiros lá fora. E infelizmente isso é algo que não deve acabar tão cedo; na verdade, a volta tão cedo destes quatro atletas consagrados mostra que é até mesmo piorar.

12 comentários:

André Augusto disse...

Bom por um lado, ruim por outro, como vc colocou. O profissional brasilerio está cada vez mais queimado. E por motivos banais. O brasileiro é mimado demais.

Marcos Antonio disse...

Isso é bom, que incentiva a volta aos estádios a compra de camisas, mas esses jogadores são mto mimadinhos... Ou melhor, não tem a estrutura necessária pra viver na europa,longe da familia, no frio, quem não tem cabeça boa não aguenta...

Everton Domingues disse...

Fala Leandrus

Já somos colegas do twitter, gostaria tb de trocar links contigo. Não sei se já visitou meus blogs olímpicos:
www.vancouverolimpica.blogspot.com
www.beijingolimpica.blogspot.com
www.londresolmpica.blogspot.com
www.twitter.com/tatolimpico

Veja oq acha e me dá um toque.
Abração

Anselmo Coyote disse...

Ótimo post, Leandrus.
Mas minha opinião é um pouco diferente.

Nós "produzimos" os melhores jogadores e ficamos com os piores dentro de casa. Em troca de quê? De campeonatos de nível baixíssimos, arbitragens abaixo da crítica, cartolas de bolsos cheios e clubes de bolsos vazios. Não gosto nem acho isso normal.

Gostaria que jogadores brasileiros só pudessem ser negociados com times estrangeiros a partir dos 30 anos de idade.

Europeus trocam de times e de países com frequência e se dão bem. Mas a europa inteira é menor que Minas Gerais - com 3 horas de vôo dá para rodar o continente inteiro. Além do mais, tem o mesmo clima, quase os mesmos costumes e cultura e os jogadores falam diversas línguas, além de serem individualistas e não dependerem tanto de relacionamentos afetivos. É cultura - não critico. Mas é fato.

Abs.

Ron Groo disse...

Beleza Leandrus, analise ótima.

Coloque também como resposta ai a sua pergunta do por que voltaram.

Fracassaram ao ter um pouco mais de disciplina sobre eles.

Anselmo Coyote disse...

Grande Ron Groo,

A vida é muito maior que a dicotomia êxito x fracasso. É óbvio quem em relação a uns ou outros jogadores o Leandrus tem razão. Generalizar é outra coisa. Existem infinitos motivos para o jogador ficar ou voltar do exterior e um deles, claro, é dinheiro.

Abs.

Leandrus disse...

Pessoal, muito obrigado pelas mensagens!

Anselmo, entendo o seu ponto de vista. E é claro que gosto também de ter um campeonato com um nível mais alto com esses jogadores que retornam ao Brasil. Poucos gostam de se lembrar de campeonatos como os de 2006 e de 2007: havia tão poucas estrelas que o melhor atleta do torneio, em ambas as ocasiões, foi um goleiro que não é nenhum Buffon da vida.

Eu tenho raiva é da personalidade da grande parte dos jogadores brasileiros. Você disse que não é bom generalizar, e até concordo. Porém, quando voltam ao Brasil, geralmente são por motivos muito fúteis e que mostram até que são mimados demais. Veja Robinho, por exemplo: encheu o saco da diretoria do Santos para deixar o clube e encheu o saco da diretoria do Man City pedindo para voltar por não ter tantas oportunidades no time titular (e isso tudo sem corresponder quando entrava em campo; e por que não, até sem se esforçar tanto para jogar 1/3 do que sabe jogar; sem contar que também encheu o saco da diretoria do Real Madrid para deixar o clube espanhol). É contra esse tipo de jogador mimado que reclamo.

No final das contas, acabamos generalizando porque vemos cada vez mais "vários Robinhos" por aí. Ou seja, vários brasileiros, muitas vezes numa tremenda falta de profissionalismo, forçando a barra para deixar seus clubes europeus ao invés de lutar por posições melhores em seus times para voltar ao Brasil. O mesmo Brasil que tanto quis deixar cedo - a exceção de alguns, infelizmente poucos casos.

Mas se quiser discordar, sem problemas! Estamos aí para discutir!

Ateh!

Daniel Leite disse...

Estou contigo, Leandrus.

Entendo que essa propensão à pirraça prejudica dois grupos, em momentos distintos: i

Inicialmente, os clubes europeus, que se veem muitas vezes afundados em prejuízos consideráveis, uma vez que investem pesadamente para comprar os jogadores, pagam-lhe salários astronômicos e, dificilmente, obtêm retorno de alguma maneira (pelo contrário: são muitas vezes "coagidos" a ajudar em seus rendimentos durante um empréstimo inútil a um clube brasileiro), visto que a mentalidade profissional dos brasileiros costuma durar poucos meses;

Posteriormente, os prejudicados são os próprios tupiniquins. Acho que não é preciso discorrer a respeito do colapso da imagem dos nossos atletas por lá. Vejo, em longo prazo, certo receio em contratá-los, numa espécie de caminho inverso em relação àquele que seria natural, de tendência ao aumento no número de brasileiros jogando na Europa e, como dizem, "realizando seus sonhos" - e os pesadelos dos clubes.

Até mais!

Anselmo Coyote disse...

Valeu, Leandrus. Obrigado. Mas eu só estou expondo meu ponto de vista.

Sinceramente, a preocupação que eu tenho com os cofres dos clubes estrangeiros é a mesma preocupação que eles tem com o nível dos jogadores que deixam por aqui.

Que eu saiba, os clubes que vivem no vermelho são os brasileiros e seu eu tivesse que me preocupar seria com eles, por motivos pra lá de óbvios.

Um bom exemplo é o Flamengo, o time que tem a maior torcida do mundo e vende jogadores todo dia. Resultado? Passou 17 anos sem vencer um brasileiro, está com uma dívida impagável de quase R$400 milhões e sequer tem um campo para mando de jogo.

Infelizmente nossos campeonatos são disputados com o resto do resto.

Tomara mesmo que os estrangeiros não queiram comprar jogadores brasileiros por pelo menos uns 10 anos seguidos. Uns 80% dos cabeças-de-bagre que estão em times de primeira divisão serão realinhados nas segunda e terceira divisões, de acordo sua real capacidade. Isso vai elevar a disputa por vagas nos clubes grandes e aumentar sensivelmente o nível do nosso futebol.

Abs.

Marcelonso disse...

Leandrus,


Nosso futebol precisa ainda se livrar de péssimos cartolas que ainda insistem em ficar parasitando.

Já estivemos em situação muito pior,mas ainda temos um longo caminho a percorrer para melhor nossa estrtutura de um modo geral.

abraço

Vinicius Grissi disse...

De fato, o talento que a maioria dos jogadores brasileiros tem mostrado no exterior é o de emburrar-se e querer voltar para casa.

Isso é bom para o nosso futebol. Mas péssimo para nossa imagem.

Leandro Montianele disse...

O retorno dos craques brasileiros é sempre ótimo para o nosso futebol. Mas na maioria das vezes eles só voltam por estarem vivendo um momento ruim no clube em que estão.

O Robinho perdeu todo o crédito que ele tinha. O cara forçou a barra para sair em todos os clubes que passou.

Abraço!